A Voz do Pai: Ecos de Fé Entre Aurea e a Polônia
A Voz do Pai: Ecos de Fé Entre Aurea e a Polônia
Em Áurea, Rio Grande do Sul, as memórias mais queridas são tecidas com as histórias que ressoam através das gerações. Nossos pais, avós e bisavós, com um brilho nostálgico nos olhos e, por vezes, uma lágrima discreta, compartilhavam a saga de um sino que se tornou o coração de sua comunidade: o Voz Patriz. Uma narrativa de fé inabalável, superação e uma conexão profunda que atravessou oceanos e décadas.
Fé que Move Montanhas: A Origem de um Pedido Sagrado
No início dos anos 1930, a vida em Áurea era marcada por desafios. Ferramentas básicas como carroças, arados, foices e machados eram luxos, e as dificuldades permeavam o dia a dia. Contudo, a fé era o motor que impulsionava aqueles pioneiros, a crença em dias melhores era inabalável. Em meio a essa realidade austera, o amor e a fidelidade à Igreja Mãe superavam qualquer obstáculo.
Com a orientação e o apoio incansável do Padre João Schmith e das valorosas Irmãs da Sagrada Família, a comunidade paroquiana se uniu em um propósito singular. Formalizaram um pedido ambicioso à Diocese de Cracóvia, na Polônia: um sino para a Matriz de Nossa Senhora do Monte Claro de Treze de Maio, hoje conhecida como Áurea-RS. Era um ato de esperança, um clamor por um símbolo tangível de sua devoção.
A Longa Jornada de um Tesouro Divino
O tempo passou, e a ansiedade da espera se misturava com a persistência da fé. Finalmente, em dezembro de 1937, a notícia tão aguardada chegou: o sino estava a caminho! Sua trajetória foi uma verdadeira odisseia. Primeiro, a travessia pelo oceano em um navio, uma jornada que, por si só, já era um feito de resistência. Em solo brasileiro, a viagem continuou por via terrestre, lentamente, pelos trilhos da histórica “Maria Fumaça”, serpenteando por Porto Alegre, Santa Maria até Getúlio Vargas-RS. Cada quilômetro percorrido era um capítulo a mais na epopeia do Voz Patriz.
Um Reencontro de Emoções e Propósito
A chegada do sino foi um evento meticulosamente planejado, impregnado de expectativa e fervor religioso. Naquele período, o zeloso Padre Estanislau Golombowski era o pároco, e com sua dedicação, dinamismo e amor, organizou uma recepção digna daquele momento histórico. O lema do próprio sino ecoava o sentimento da comunidade: “PARA A GLÓRIA DE DEUS PAI E PARA O DESPERTAR DA HUMANIDADE”. Essa frase, gravada em polonês – “BOGU NA CHALE – RODAKOM NA OTUCHE” –, tornaria-se um lembrete perene de sua missão.
De todos os cantos da paróquia, famílias inteiras se moviam em peregrinação. Carroças, cavalos e fiéis a pé convergiam para o ponto de encontro. Alguns foram até a estação de Getúlio Vargas para testemunhar a chegada, enquanto outros aguardavam nas encruzilhadas, rezando e entoando canções em polonês, uma manifestação tocante de sua herança cultural e espiritual.
Finalmente, a comunidade se reuniu em frente à majestosa Igreja Matriz, Nossa Senhora do Monte Claro, para as solenes cerimônias de recepção do sino, que vinha acompanhado do sagrado quadro de Nossa Senhora de Częstochowa. Era um momento de júbilo coletivo, de gratidão profunda por um sonho que se tornava realidade.
O Legado que Badala e Inspira
Por desígnio do Pai Eterno, a Pátria Mãe Polônia, há 88 anos, por intermédio da Congregação dos Padres Redentoristas, enviou mais do que um objeto: enviou um símbolo que despertaria os fiéis de Áurea na fidelidade, no amor e na paz. O sino, uma obra de arte sonora doada pelos paroquianos de Cracóvia, ressoa até hoje na torre da Igreja de Áurea, suas badaladas marcando o ritmo da vida e da fé.
E a história não para por aí. Atualmente, da mesma cidade de Cracóvia, com o pedido e a incansável ação da mesma Congregação dos Padres Redentoristas, um novo sino chega à Basílica do Pai Eterno, no coração do Brasil: o “Voz do Pai”.
Pode existir graça maior que esta? Uma conexão que transcende fronteiras e gerações, um elo inquebrável entre a fé de um povo e a providência divina. Diante de tamanha dádiva, a pergunta que ecoa em nossos corações é: o que retribuiremos ao Pai Eterno por tamanha generosidade? Que nossa gratidão seja expressa em cada badalada, em cada ato de fé e amor, mantendo viva a Voz do Pai em nossos dias.




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