Áurea capital polonesa dos brasileiros registra homenagem póstuma à madre Fabíola Ruszczyk


Madre Fabíola encerrou sua carreira nesta terra. Ainda a poucos dias visitando as comunidades no Rio Grande do Sul e peregrinando até o Santuário de Matka Boska Częstochowa em Bom Jardim Rio Grande do Sul. Partiu à casa do Pai para encontrar-se definitivamente com a Sagrada Família- Jesus, Maria e José, neste ano de São José.

Hoje, dia 19 de março de 2021 lembramos que é tempo de louvores à São José.

Tempo da 18ª Assembleia da Casa do Imigrante Poplawski – Samojeden.

Tempo de silenciar, de parar, ouvir e ver.

Tempo de contemplar e agradecer.

Tempo de agradecer pela bondade e infinita misericórdia de Deus.

Nesta data tão significativa para a cultura polonesa especialmente no Rio Grande do Sul e particularmente para Áurea, Erechim e Bom Jardim, queremos deixar registrado o perfil da\ Madre Fabíola Ruszczyk.

A Associação da Casa do Imigrante Polonês de Áurea- RS, faz um reconhecimento todo especial repassando sua história de vida, seu testemunho, seu determinismo vocacional e suas lições de fé inabalável.

Por diversas vezes visitou o Colégio Sagrada Família em Áurea como também a Casa do Imigrante Polonês. Com sua presença, sempre apoiou a existência e o desenvolvimento da Casa do Imigrante. Apoiou com pequenos gestos, com alguns mimos e lembranças trazidas da Polonia. Eram pequenas gotas que faziam diferença que reforçava a cultura e a história.

Em 02 09 2005 organizou a vinda das Irmãs da Polônia para visita à comunidade religiosa e à Casa do Imigrante. Deixou no Livro de visitas a seguinte mensagem: “Deus seja louvado pelos 90 anos da existência da Sagrada Família em Áurea. Deus seja louvado também porque temos em nosso coração, em nossas metas de vida, em nossa lembrança a riqueza da fé, a confiança, a coragem e o testemunho de nossos antepassados. Esta casa conta a história dos 100 anos dos nossos queridos imigrantes. Pedimos a Deus que ela continue viva levando as gerações novas o amor cultural e o desenvolvimento histórico”. Palavras da Madre Fabíola e mais quatro Irmãs da Sagrada Família- Varsóvia, Kraków, Poznan. (livro de visitas página 49.

Quem foi Madre Fabíola Ruszczyk.


O seu perfil polônico serve de modelo para todo o ser humano. A sua história, a sua rica biografia será como sementeira de valores perenes a serem cultivados pelas gerações futuras.
"Uma mulher graciosa obtém respeito, mas os laboriosos alcançam fortuna”. Provérbios 11,16

Uma das pessoas mais sensatas que já conheci na minha vida partiu para o Pai.

Sua morte repentina entristece e assusta. Quem ia esperar isso? Aliás, sempre foi comum cantar em

polonês com ela: “STOLAT”. E efetivamente queríamos que chegasse ao cem (e quem sabe mais do que isso).

Lembro de quando a conheci ainda menino. Era ela “a Madre”. E este nome lhe cabia muito bem: mãe, Madre, Educadora... Com seus dotes de governo uma mulher séria e enérgica, mas ao mesmo tempo amável e de uma competência ímpar em diversos assuntos. Englobava em si as virtudes de inúmeras mulheres exaltadas na Bíblia e especialmente se identificava com as grandes santas do catolicismo.

Grande musicista, organista, pianista, cantora afinada. Sua vida foi uma sinfonia para Deus e para a Igreja, especialmente na sua Congregação das Irmãs Franciscanas da Sagrada Família de Maria.

Não pensava apenas na sua família religiosa como “num gueto”, mas aberta às necessidades do próximo e da Evangelização. Haja vista seu empenho em manter irmãs até mesmo no Seminário. Nisto, por exemplo, a Arquidiocese de Curitiba lhe deve uma gratidão ímpar, especialmente no Seminário Menor São José.


Sem sombra de dúvidas Madre Fabíola é comparável a uma Catarina de Sena, decidida e profunda. Aquela fez o Papa sair de Avignon e voltar para Roma. Esta tantas vezes fez sua Congregação e (por isso também a Igreja) “voltar às origens” para não perder o essencial.


Empenhada no que realmente importa, vez por outra via-se nela Teresa D’Avila em suas andanças e fundações. Empreendeu diálogos e até resolveu litígios com diversos tipos de autoridades para abrir ou fechar conventos. Encerrar, recomeçar ou inovar em obras de apostolado.

Ah, como era encantadora sua cultura eclesiástica, da qual uma conversa era sempre uma riqueza.

Uma boa prosa com ela e com Dom Pedro Fedalto era um verdadeiro passeio na História da Igreja.

Pedagoga nata, parecia muitas vezes filosofar como uma Edith Stein, atenta a todos os fenômenos à sua volta. Contudo, tinha uma fé de menina, que se via nos ditos inocentes como de uma Bernadete Soubirous ao falar com a Virgem Maria.


Irmã Fabíola, como foi bom conhecê-la: uma religiosa no verdadeiro sentido da palavra!


Tantas pessoas “religadas”, levadas a Deus por suas intervenções e ações. Jovem como uma Catarina Labouré, aos 15 anos já fizera votos, indo trabalhar no Seminario São José de Curitiba, destacando-se por seu amor à Capela como uma Teresinha do Menino Jesus. Contudo, com o tempo emergiam seus dons, e então lhe foram confiadas outras atividades, vindo inclusive a ser Madre Geral. Nisso tudo é sabido que tantas vezes foi Incompreendida porque sua intrepidez parecida a de uma Joana D’Arc costumava questionar limites humanos. Contudo, o tempo se encarrega sempre em mostrar que no raiar da verdade uma santa não é uma bruxa.


Agora as lágrimas escorrem no rosto de quem recorda com gratidão ter visto e ouvido sua pessoa. Um ser humano sem igual. Pena que os últimos tempos de Pandemia não permitiram encontros ou risadas. Discussão de assuntos sérios ou piadas. Contudo, grande mestra, resta lembrar sua paz de espírito e sua polidez invejável para sabermos o quanto Deus foi generoso por nos ter dado sua pessoa como irmã, amiga e mãe.

Ora pois, Madre Fabiola, o seu legado não cabe em livros ou linhas. Ganhamos hoje na Pátria celeste uma matriarca intercessora. Embora para os olhos humanos não seja este o momento, a senhora aprontou-se para esta moradia e ajudou tantos outros a preparar-se para isso. Colha os frutos de sua significativa passagem por esta terra e por nossas vidas.

A estas alturas, São Zygmunt já deve estar lá a acolhê-la, feliz pelo empenho em ter batalhado pela canonização dele em 2009. Ele se manifestava em sua pessoa e agora a recebe para que de lá possam abençoar seus devotos.


Pessoalmente peço que me ajude a chegar ao céu. Creio que a senhora é uma boa guia, como provou na ocasião em que peregrinamos pela Polonia, conhecendo desde as belezas de Varsóvia e as grandezas de Cracóvia até os horrores de Auchwitz. 


Obrigado por aquele passeio com as preces ainda em Wadovice, Niepokalanow, Jasna Gora, junto ao corpo de Popieluzko e tantas outras possibilidades. Espere suas filhas e filhos, bem como este seu filho adotivo com alegria lá no paraiso, com o brilho que se vê à beira de uma tarde de passeio às margens do Rio Vistula: Sczez Boze!


Obrigado por sua existência e exemplo de mulher sensata e virtuosa.

Matka Fabiola, Dzenkuje Bardzo!
Descanse em paz e interceda por nós!
Padre Fabiano Dias Pinto
Reitor do Seminário Rainhas dos Apóstolos



Varsovia, 11.03.2021

Madre Fabiola Ruszczyk
Congregação das Irmãs Franciscanas da Família de Maria


Com o objetivo de preparar o Capítulo Geral da nossa Congregação, esperávamos a chegada de Madre Fabiola Ruszczyk, na Polônia.

Por isso, ficamos muito entristecidas com a notícia do seu falecimento, recebida na hora da nossa oração, como de costume, diante do Santíssimo Sacramento.

Logo depois de receber a notícia da morte da Madre, com lágrimas de gratidão e tristeza, nos reunimos para celebrar a Eucaristia. Durante a Missa agradecemos a Deus pelo dom da vida e da vocação que a Madre Fabiola realizou na Congregação da Sagrada Família de Maria.

Fabíola é seu nome religioso. Mas seus pais lhe deram o nome de Julia. A Madre Fabíola nasceu em 27 de agosto de 1934, em São Luiz Gonzaga, RS no Brasil, em uma família de origem polonesa. Com apenas 13 anos entrou na Congregação da Sagrada Família, em Curitiba. Fez seus primeiros votos, em 1951 e a profissão perpétua, em 1957.

Na Congregação, formou-se em Pedagogia e trabalhou como Professora. Mais tarde assumiu a Direção do Colégio, em Campo Largo. Na Congregação, a Madre Fabíola foi confiada às funções de: Mestra do Noviciado, Juniorato, Secretária Provincial e Superiora Provincial, duas vezes.

Deus viu o coração, a devoção, e a dedicação da Madre Fabíola. Por isso, enviou-a para realizar seu ministério na Congregação, em solo polonês e, depois, nos países onde as casas da Família de Maria estavam espalhadas.

Nos anos de 1996 a 2002, foi Vigária Geral. Em 2002, foi eleita Superiora Geral da Congregação das Irmãs Franciscanas da Família de Maria. Este ministério, exerceu por duas gestões. Foi também conselheira da Conferência das Congregações Femininas, na Polônia.


Durante o ministério da Madre Fabíola, na Polônia, aconteceram alguns eventos importantes e muito esperados, pela Congregação. Entre os mais esperados estava a beatificação e a canonização do Fundador da Congregação - São Zygmunt Szczęsny Feliński, pela qual as Irmãs rezavam e aguardavam por muito tempo.

Este tempo foi especial em preparação e depois, de ação de graças. Agradecimento que se espalhou pelo mundo inteiro, no Brasil e na Europa, chegando ao Oriente.


A Madre amava o nosso Fundador, e seu amor era expressado através da oração e do serviço. Com muito carinho e doação preparou as Relíquias de São Zygmunt Szczęsny Feliński e depois, com alegria, distribuiu-as entre os seus devotos.

Com seus pais, aprendeu e praticou a religiosidade polonesa, especialmente o amor e a devoção a Nossa Senhora de Częstochowa.


A Madre Fabíola também encontrou essa devoção na Congregação. Sempre era feliz quando sua missão conduzia-a para ou por Częstochowa. Então sempre visitava o Monte Claro. Graças aos esforços da Madre, em Bom Jardim, no Brasil, foi inaugurado o Santuário de Senhora do Monte Claro.


Ela admirava e compartilhava a espiritualidade do Fundador da Congregação, o qual dos famosos concidadãos poloneses aprendeu o princípio de vida... “que ser polonês, na terra, é viver divinamente e, nobremente”... Ao mesmo tempo, enquanto servia como Superiora Geral, na Polônia, com profundo amor, olhava para o Brasil.



O coração da Madre Fabíola reagiu de forma muito viva aos lugares santificados pela obra e pela vida do Fundador nos antigos terrenos, na Polônia. A Madre, ao visitar esses lugares procurou preservar a memória sobre São Zygmunt Szczęsny Feliński em: Petersburgo, Czerniowce, Żytomierz, Dźwiniaczka, Lviv e outras regiões do leste da Europa.

Sempre sentia-se bastante emocionada quando ouvia a história da Polônia e, frequentemente, reagia com lágrimas.

A vida espiritual da Madre Fabíola refletiu fielmente os princípios transmitidos pelo Fundador das Irmãs da Família de Maria, foi profunda, fiel, constante e partilhava com os outros.Ela amava a Deus e amava a presença de Deus nas pessoas.





Em janeiro deste ano, Madre Fabiola Ruszczyk juntamente com as Irmãs celebraram, em Curitiba, os 70 anos dos seus votos religiosos. Foi um momento de grande alegria e de ação de graças, porque muitas gerações das Irmãs da Sagrada Família de Maria se aproximaram de Deus inspiradas no espírito do Fundador, transmitido pelo ministério de Madre Fabíola.

Por isso, juntamente com todas as Irmãs do Brasil, da Polônia, de Roma, da Rússia, da Ucrânia, Bielo-Rússia e África do Sul, agradecemos pela vida e vocação da Madre Fabíola. Louvamos a Deus e cantamos com gratidão:


„... Ele, por amor,
me chamou à existência.
Soprou sobre mim o seu Espírito,
e me criou à sua imagem.
Como proprio filho
Conhece-me pelo nome.
Hoje entrego minha alma
em suas mãos,
Ao meu Criador
e melhor Pai,
Estou voltando para Casa,
como um peregrino fatigado,
e Você com amor
me recebe de volta.”


Com grande amor entrego a Deus, do qual a Misericórdia é sem limites, à nossa Madre Fabiola Ruszczyk.




Superiora Geral M. Janina Kierstan
e Irmãs da Congregação da Família de Maria.



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