O encontro do branco com o negro em uma terra sem nome!

 

RETRATOS DO PASSADO 24.12.1911 MEMORIAS NO PRESENTE 24.12.2020
PRIMEIRO NATAL EM ÁUREA - RS – CAPITAL POLONESA DOS BRASILEIROS
NATAL VERDADEIRO!



    Em 1911 nas matas escuras e fechadas na terra da atual cidade de Áurea/RS residiam alguns grupos de Caigangues – moradores do mato. Suas moradias eram cobertas com ramos de árvores, palha e barro, sustentados por um tronco localizado ao centro da construção.
    Havia entre eles um líder chamado Marcelino que tinha uma cabana ao lado do rio.


    Enquanto, na Europa o povo polonês vivia UM LONGO ADVENTO que inicio com a dependência, sem existir no mapa da Europa, sem bandeira, sem direitos humanos. Perseguido por nações vizinhas, onde nada podia ver ou saber. Eram controlados pela severa censura. O que lhes restava era o direito de sofrer, calar, vegetar e morrer na mais cruel perseguição. Eram proibidos de falar, cantara e rezar em polonês.

    Única saída era fugir ou imigrar em busca de paz e terra, para escapar da opressão e viver em liberdade.

    E o LONGO ADVENTO continuou!

    Os poloneses tinham pressa de se livrar da opressão e de organizar sua vida em outros países, vendiam seus bens por qualquer preço.


    Informados que os passaportes eram fornecidos pelos russos e austríacos, passavam as fronteiras e vinham por conta própria para conseguir seu pedaço de terra, pão para comer e liberdade para viver.

    Partir era a alternativa.

    Muitas lágrimas misturavam-se com a terra dos que partiam e dos que ficavam.


Só estava lhes reservado um mar de desilusões e decepções. A sorte dos poloneses estava lançada. Foi um derradeiro adeus naquele instante de vida. A dolorosa separação do Torrão Natal. Levaram consigo a lembrança da última missa naquelas históricas igrejas nas quais foram batizados, e receberam os sacramentos.

Eles sabiam o que deixavam e não podiam adivinhar o que estrava reservado para o futuro.

        Foram mais de 30 dias de sofrimento em alto mar. A única proteção que tinham era a Nossa Senhora de Czestochowa. Improvisavam altares com caixotes para rezarem à Nossa Senhora. Ela era a estrela, a guia de todos os poloneses.

    Os poloneses eram colocados nos porões dos navios. Desesperados, neste local “imundo” onde respiravam ar fétido e poluído, era insuportável!

    Enfrentado nos dias de tempestades, com ventos arrastando o navio ao longo do oceano. Única esperança era rezar e cantar à Nossa Senhora de Czestochowa.

Passando a tempestade veio uma epidemia onde muitas pessoas morreram.

        A maior angustia e tristeza era saber que alguém da família morresse e que seria jogado ao mar, isso lhes partia o coração. Só era lhes permitido sair no alto do navio para respirar ar pura, para rezar e cantar.

 

    O fluxo maior da imigração, ocorreu entre os anos de 1890 a 1911. A espera era longa, o advento era longo mas quando o navio atracava no Porto do Rio de Janeiro, onde os imigrantes eram levados para a Ilha das Flores era uma alegria inexplicável. Mas após a quarentena da Ilha das Flores o caminho era seguir a longa viagem para Porto Alegre, onde ficavam alojados em barracões improvisados. Onde o calor forte e os mosquitos não os deixam dormir descansados nem de noite e nem de dia.


    Dias depois viagem com tropeiros para a região do destino. As últimas levas vinham de trem até Santa Maria, Erechim e Getúlio Vargas. E dali vinham de cavalo ou a pé até chegar no local do destino.

    A imigração de 1911 chegou na atual terra de Áurea no dia 24 de dezembro onde foi recebida pelo negro o senhor Marcelino.







    O LONGO ADVENTO terminou com a alegria da calorosa e sincera acolhida.

    A confiança, a esperança, o ânimo, a vitória fez com que em uma grande ação de graças fizessem uma humilde cabana com o auxílio do bondoso negro Marcelino que era experiente na lida com a madeira.









Quando apareceu a primeira estrela no céu, as famílias, fizeram a singela celebração do pão abençoado, o pão ázimo, o Oplatek.



    A cabana tornou-se um espaço sagrado. Não dispunham de nenhum recurso para ornamentação, mas mesmo assim acreditavam profundamente que a hora de Deus soou e que nesta cabana residia a Sagrada Família. Reanimaram o amor que existia em seus corações pelos grandes santuários e igrejas que deixaram na saudosa pátria mãe Polônia.

    E nesta TERRA NOVA aconteceu o primeiro presépio.










Ao mesmo tempo que se constituiu uma homenagem ao Marcelino - negro nativo, batizando a NOVA TERRA de RIO MARCELINO, se auxilia na conscientização da população sobre a verdadeira importância que a cultura das raízes exerceu na formação histórica e cultural dos povos e seus reflexos até os dias atuais.

                                                                                            I.I.C.P.
























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