Perfis polônicos que contribuíram na cultura de Áurea/RS, região e mundo


 Irmã Isa Carolina Poplawski ex-diretora do Colégio Santa Ana e Colégio Estadual de Carlos Gomes-RS, no tempo em que ainda não havia asfalto na região de Passo Fundo e Erechim-RS. Para chegar até a 15ª Delegacia de Educação, às vezes íamos de ônibus, outras, de alguma carona quando aparecia. E o almoço era em forma de lanche levado de casa que fazíamos no subsolo da Catedral São José ainda em construção e decoração pelo artista Arystarch Kaszkurewicz.

Na vida da gente tudo acontece para o bem e para a glória de Deus. As obras de Deus são sempre grandiosas. O estar comento um lanche, fazendo uma descansadinha e mais uma breve oração contribuiu muito para conhecer de perto e dialogar com o idealizador e executor dos painéis e murais de nossa Catedral São José de Erechim-RS – o Dr. Sr. Arystarch Kaszkurewicz.

Ver, ouvir e contemplar essa pessoa e suas obras foi para mim uma lição de vida para reconhecer em profundidade as obras grandiosas que Deus opera pelos seres humanos.

Pessoas às vezes aparentemente tímidas, medrosas em meios sociais, até mutiladas pelas consequências dos desastres físicos ou provocados por desvirtudes humanas mas que, com a sua genialidade criativa, tornam-se baluartes no testemunho, no talento, no esforço quase sobre-humano, com uma impressionante força de vontade e persistência.

Nada o importava de subir em velha escada de madeira para criar e dar vida à sua obra. Escolheu o Brasil como seu lar, onde se transformou anonimamente em um dos mais brilhantes artistas sacros no País, aplicando nas paredes das igrejas, sua visão do eterno, do divino e do contemplativo.

Homem de firme caráter cristão e patriótico. Na Catedral São José de Erechim-RS discretamente deixou a marca de suas virtudes por meio da Águia Branca, símbolo polônico.

Registrou o processo histórico de sua vida peregrinando países, passando mensagens cristãs e patrióticas, deixando obras que por si só contam sua história no silêncio de cada detalhe.

Não gostava de mostrar as suas deficiências, mas, seus trabalhos e os diversos estilos que criou, como que demonstravam que o olho e as mãos não lhes faziam falta.

A presença do Arystarch Kaszkurewicz, homem de grande cultura pessoal, mas humilde, sincero, honesto, que perdeu alguns membros do corpo, perdeu a saúde, mas não perdeu a dignidade humana faz a gente pensar que de fato esse homem íntegro mereceu o céu e as devidas recompensas que o planeta terra não lhe deu. Contemple a Biografia do Arystarch Kaszkurewicz o nosso querido compatriota.

      I.I.C.P.



Arystarch Kaszkurewicz

Arystarch Kaszkurewicz (Słuck, 12 de fevereiro de 1912 — São Paulo, 8 de abril de 1989 foi um artista plástico nascido na Polônia e radicado no Brasil.

Arystarch fugiu da Europa por ocasião da Segunda Guerra Mundial, tendo perdido, durante a ocupação alemã, as duas mãos e o olho esquerdo. Morou no Brasil desde 1952, realizando trabalhos em 28 cidades brasileiras, até sua morte, em completo anonimato, em 1989, por ataque cardíaco.

Fez trabalhos em vitrais, pastilhas, e projetou ele próprio seus instrumentos de trabalho, mediante as limitações físicas; durante o trabalho, amarrava seus instrumentos junto ao corpo, como se fossem uma extensão dele.

Sabe-se que Arystarch estudou artes na Alemanha e falava nove idiomas. Sua chegada ao Brasil, na década de 50, foi a pedido da Casa Conrado Sorgenicht, especializada no ramo de vitrais, pois nessa época existia um decreto que proibia a entrada de portadores de deficiências físicas no país. Arystarch desembarcou em São Paulo mediante uma autorização especial assinada pelo presidente Getúlio Vargas. Veio acompanhado de sua esposa e de seu único filho, Eugenius, depois professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro e funcionário do Ministério da Ciência e Tecnologia.

Fez diversos trabalhos em Campinas, entre eles os vitrais da Igreja de Santa Rita de Cássia, no bairro Nova Campinas, e os murais do Liceu Salesiano, no bairro Taquaral onde utilizou 300 mil pastilhas para formar a imagem de Nossa Senhora Auxiliadora.

Além de Campinas, Arystarch trabalhou também nas cidades de Americana, Jundiaí, Santo André, Itatiba, São Paulo (Paróquia Nossa Senhora de Lourdes - Planalto Paulista) , Itatiaia, Rio de Janeiro, Cuiabá, Passo Fundo, Erechim, Fortaleza.

Seu filho, em conjunto com a jornalista campineira Raquel Bueno, lançou a biografia do artista no livro “Arystarch – O Arquiteto dos Deuses”, em 2004.

 

Breve descrição dos painéis da Catedral de Erechim

São 3 painéis maiores, 14 quadros grandes da Via-Sacra e símbolos menores em baixo-relevo (esgrafito).

Santa Ceia: No centro, no fundo do Presbitério, com 8m de altura e 15,95 m de largura. Para identificar o traidor de Cristo, deixou Judas sem auréola. Na mesa da Ceia, estão os dois peixes e a cestinha com os cinco pães do milagre da multiplicação dos pães. Ao representar a última Ceia, com a instituição da Eucaristia, o artista visibiliza o milagre que a prefigurava. À direita e à esquerda do quadro da Ceia está uma faixa com símbolos de trigo e uva, dos quais provêm o pão e o vinho para a Eucaristia. Sob a sigla JHS (em latim: Iesus Hominum Salvator – Jesus Salvador dos homens), acima da Cátedra, discretamente, o artista deixou a marca de sua etnia, a águia polonesa. Ao pé da mesa, está o desenho de uma talha e de uma cesta cheia de pães. A talha poderia lembrar o milagre de Caná, no qual Jesus transformou a água em vinho. O “mestre-sala” disse ao noivo que havia guardado o “vinho melhor” até aquele momento. Na Ceia, Jesus transforma o vinho no seu sangue. Este sim é o vinho melhor. A cesta com os pães poderia lembrar aqueles doze cestos de pedaços de pão recolhidos por ocasião da multiplicação dos pães, depois que todos se alimentaram. Na Ceia, Jesus oferece seu Corpo, Pão da Vida, em abundância. Nunca faltará. 

Batismo do Senhor: Na frente, à esquerda de quem entra na igreja, com 8,65m de altura e de 3,66m largura. Jesus nas águas do Jordão sendo batizado por João Batista tem acima a pomba que representa o Espírito Santo, a “mão” do Pai, no triângulo da Trindade. Pode-se observar que o Jesus do Batismo demonstra ter menos idade do que o Jesus da Paixão (três anos). À esquerda de quem olha o painel, estão os símbolos dos Sacramentos, nesta ordem, de cima para baixo: batismo, crisma, eucaristia, penitência, unção dos enfermos, ordem e matrimônio. À direita, símbolos das virtudes teologais – fé, esperança e caridade – e das virtudes cardeais – prudência, justiça, fortaleza e temperança.

Via-Sacra: De 3,57m altura e de 2m largura. Apenas o 8° quadro, encontro com as mulheres, tem três figuras. Os outros, apenas uma ou duas. No primeiro painel, a condenação de Jesus à morte, estão representados regimes ditatoriais e opressores diversos.

Ressurreição: De 8,65m altura e 3,76m de largura. Apresenta o anjo junto ao túmulo e Jesus Ressuscitado acima dele. A figura do Ressuscitado é ladeada por uma via-sacra em miniatura, começando à esquerda de quem olha, de cima para baixo. Consta apenas da cruz e algum símbolo. A posição da cruz ou o sinal que a acompanha indica a que quadro corresponde. O primeiro quadro é um machadinho. Simboliza a decretação da sentença de morte de Jesus pela autoridade. O lírio junto à cruz: encontro com a mãe; a mão na cruz: Simão que ajuda Cristo a carregá-la; o rosto no pano: o encontro com Verônica; os dois lírios: as mulheres... Cada quadro é rodeado pela coroa de espinhos. Esta via-sacra, por sua vez, é também ladeada de símbolos de trigo, de uva, do monograma de Cristo encimado pela coroa (a vitória do Ressuscitado).

Quadros dos evangelistas: A iconografia cristã (representação por imagens) atribui um símbolo a cada um dos quatro evangelistas. Esta atribuição é feita a partir dos textos de Ezequiel 1, 1-4 e 10, 14 e de Apocalipse 4, 6-7, que falam de quatro seres vivos com aparência de touro, leão, ser humano e águia. O primeiro a relacionar os evangelistas com estes seres foi Santo Ireneu (+ 203). Depois foi Santo Agostinho (+ 430).  No peitoril do mezanino (“coro”), estão estes símbolos dos quatro evangelistas.

No leão (primeiro à esquerda de quem olha para o mezanino) está simbolizado o evangelista São Marcos, porque no início de sua narração do Evangelho diz que João Batista apareceu no deserto, onde mora a fera (Mc 1,4). O leão simboliza o poder e o vigor. Marcos escreveu o Evangelho para os cristãos vindos do paganismo e do judaísmo, ressaltando que Jesus é o Filho de Deus.

Na figura do ser com rosto de homem está representado São Mateus, porque começou o Evangelho com a genealogia de Jesus (Mt 1, 1-14). O ser humano representa a amabilidade e a compreensão. Mateus escreveu para os convertidos à fé cristã oriundos do judaísmo, ressaltando que Jesus Cristo é o Messias por eles esperado.

Na águia está simbolizado São João por causa de seu estilo elevado de escrever o Evangelho (Jo 1, 1-18). A águia é símbolo de seres celestiais, pela beleza de seu vôo e pela altitude inatingível onde constrói seu ninho. Ele escreveu o Evangelho para as comunidades da Ásia Menor, combatendo certas heresias, como a dos gnósticos.

No touro está simbolizado o evangelista São Lucas porque começou o Evangelho falando do Templo, onde eram imolados os bois (Lc 1, 5-25). O touro é símbolo da força. Lucas escreveu o Evangelho para as comunidades constituídas entre os gentios, os que não eram da descendência de Abraão. Ressalta a misericórdia divina. 

Tiara papal: No centro do peitoril do mezanino, no meio dos quatro símbolos dos evangelistas, está a tiara papal, a mitra do Papa (“Barrete alto e cônico, fendido lateralmente na parte superior e com duas faixas que caem sobre as espáduas”). Representa a dignidade do Papa, com seus títulos principais: Pastor da Igreja Católica (princípio visível e fundamento da unidade de fé e da comunhão, Sucessor de São Pedro), Bispo de Roma, Autoridade civil do minúsculo Estado do Vaticano. Pode-se ver nela também o tríplice múnus de Profeta, Sacerdote e Pastor do Papa na Igreja. 

É uma espécie de sigla ou abreviatura de Cristo em grego. XP correspondem ao C e ao R em português. São as duas primeiras letras de CRISTÓS, em grego. É o monograma de Cristo.










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